sábado, 17 de julho de 2010

Sai

Depois de tanto tempo a dar-te a mão, ela é que tira o proveito. Porquê? Diz-me. Tenho estado sempre aqui para ti. E tu, estás para quem? Para ela.
Porque é que fazes parte da minha vida? Porque é que tinhas que entrar nela? Sai! Sai de mim!
Maldito dia em que te conheci. Maldito dia em que fui contra tudo e contra todos e te encontrei.
Há tantos anos! Há tantos anos que eu estou aqui só para ti, e tu...tu nunca estás aqui para mim. Nunca. Só estás para as outras. E eu sempre aqui. Eu sempre a ver-te. E sempre a dar-te a mão. E sempre a ver-te largá-la para a dares a outras. Não aguento mais isto. Não aguento!
Sai da minha vida!
Sai de mim!
Sai!
Sai...

2 comentários:

  1. Cai, assustadoramente, o número de casais de mãos dadas nas cidades grandes; cresce, por outro lado, a imundice da imoralidade nos olhos dos homens, cujo estado de degenerecência moral e de caráter decorre do avanço sofisticado da cultura indecente das sociedades modernas, apelidadas de neo-modernas ou neo-industriais. Aumenta-se, por sua vez, o número de tristeza nas almas das pessoas, que são devoradas pelas torpezas de um cotidiano demoníaco e implantado por uma economia predatória. Por isso o poeta grita, dizendo:


    MÃOS DADAS

    Mãos dadas não importa como
    Nem de que jeito elas são dadas
    O importante é que vão atadas
    Formando o encontro das almas

    Mãos pacientes criando o amor
    Não importa como se agarram
    O importante é que vão juntas
    Cheia de tato, carinho e ternura
    Mãos dadas que tecem uma luz
    Tão divina quanto a luz do Sol
    Formosa luz como uma linda flor

    Mãos que firmes se entrelaçam
    E agora mutuamente fundidas
    Do amor fazem eterna premissa.

    Guina

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  2. Existem homens que foram feitos pela fúria de Deus (ou dos deuses) e outros, paradoxalmente, pelo amor bondoso de Deus (ou dos deuses); outros, ainda, foram como que feitos, concomitantemente, pela fúria e pelo amor bondoso de Deus (ou dos deuses). Só sei dizer que estes homens, escolhidos a dedos por forças misteriosas e indecifráveis, são os que tanto movem a História como iluminam-na, pagando um preço insuportável na alma ou na carne, ou em ambos. O deus Vincent Van Gogh é, por exemplo, um desses homens que ao lado de poucos e raros desaparecem do meio da verminosidade do mundo medíocre para se transformar em luz e sol para toda a Humanidade, além de se tornar insepulto na memória de todas as gerações futuras, fenômeno que não acontece com os banqueiros que, ao morrer, logo logo desaparecerão da memória social, assim como desaparecem os vermes quaisquer.



    A BALA DE VAN GOGH


    Assim como Jó e Jesus num só
    Sob o peso do mundo e da cruz
    Um errante mais que a morte
    Uma morte pelo mundo tangida

    E qual dor sangrando nos olhos
    Como um raio os céus cortando
    Caído, esvaído e transfigurado
    Mil vezes à mingua morrendo...

    Assim como Jesus e Jó num só
    Todas as mortes juntas sem dó
    Num homem retalhado em nós

    E Qual dor sangrando a alma
    Contra o peito a alma se matou
    Num tiro que calou os céus.

    Guina

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